Entenda o porquê
No começo deste ano, sete diretores do Carrefour, de São Paulo, receberam um comunicado do departamento de recursos humanos da multinacional. Nele, o RH explicava que havia contratado uma empresa de coaching para ajudar a melhorar o relacionamento da equipe. O time era competente, mas extremamente competitivo. E em função disso não estava trabalhando com objetivos comuns, o que atrapalhava as negociações e o cumprimento de metas. O coaching tinha, então, uma missão clara: resolver as relações entre os profissionais a fim de que conseguissem melhorar o rendimento da equipe. Dois coaches foram designados para dar início às reuniões individuais. Aparentemente, tudo corria bem. Todos se mostravam interessados em buscar a solução. Mas era só aparência. Os líderes manipulavam os coaches, fazendo-os acreditar que mudariam de postura, que seriam mais unidos e que os objetivos pessoais deveriam, de fato, abrir espaço para as metas da empresa. Os coaches recebiam respostas prontas e não percebiam que estavam sendo manipulados - erro fatal nesse relacionamento. "Os coaches deveriam ter interpretado os sinais da equipe, tinham de ser mais vivos", diz o diretor da divisão de cartão de crédito do Carrefour, Erik Cohen, de 46 anos, de São Paulo, um dos envolvidos no processo. Resumo da história: as sessões decoaching duraram seis mese s e custaram cerca de 100.000 reais para a empresa. Pois é, 100.000 reais que viraram pó. Afinal, tudo continua como antes. "Eu acredito no coaching, mas não na maneira como foi feito. Aqui, os problemas continuam exatamente os mesmos", afirma Cohen.
O caso acima é apenas um entre os diversos mal resolvidos que têm pipocado no mercado. É um sintoma da febre do coaching, que tem avançado com força no mundo corporativo brasileiro. Ela é resultado da conjunção de duas tendências. Uma é o fato de que as empresas são sistemas cada vez mais complexos e demandam mais dos líderes. O outro é que os executivos estão optando por deixar a solidão do poder de lado e ir em busca de ajuda - muitas vezes de alguém de fora da organização, com experiência e sensibilidade - para equacionar os desafios do dia-a-dia. Trata-se de um cenário extremamente favorável a este tipo de serviço.
O coaching é um recurso relativamente novo. Surgiu nos Estados Unidos, no início da década de 90, e, segundo a revista inglesa The Economist, movimenta hoje 1 bilhão de dólares no mundo, valor que deve dobrar em dois anos. Ele nasceu dessa necessidade dos executivos de redirecionar suas carreiras, desabafar e checar, por exemplo, se há um desequilíbrio entre vida profissional e pessoal que esteja interferindo no trabalho. O coaching é um processo de desenvolvimento personalizado que vai ajudar o líder a atingir seus objetivos. "Melhor assim, porque, se quem procurasse os consultores fossem profissionais fora da linha de comando, o processo seria apontado como motivo de fraqueza", diz Luiz Carlos de Queirós Cabrera, sócio-diretor da PMC Amrop Hever Consultores.
Há ainda os que confundem coaching com sessões de terapia. Funciona da seguinte forma: você contrata um profissional que se diz coach achando que ele vai questionar e direcionar sua vida profissional, e ele analisa sua vida profissional baseado em algum problema emocional do passado ou um desequilíbrio psicológico.Primeiro erro: analisar. Coach não analisa. Ele questiona até que o próprio profissional chegue às conclusões que procura. Outro erro: quem quer fazer terapia procura um psicólogo, não um coach . O coach pode até ser graduado em psicologia ou ter feito algum curso de especialização na área. Mas não deve confundir as estações. "Tem muito consultor que se acha coach simplesmente porque colocou essa palavra no cartão de visita", diz a coach Andrea Lages, CEO da Lambent do Brasil e co-fundadora da Comunidade Internacional de Coaching (ICC).
A solução, acreditam os especialistas, deverá acontecer por seleção natural. "O próprio mercado vai se depurando", afirma Gladys Zrncevich, consultora da A2Z, de São Paulo. E o executivo também tem de fazer a lição de casa: "É preciso saber o que a pessoa busca para que não se recorra ao profissional errado", afirma Diego Lopez,coach e consultor de RH da consultoria Dextron. Se o objetivo do profissional envolve mais o lado emocional ou familiar, talvez seja o caso de procurar um terapeuta. Se estiver em busca de um novo trabalho, por exemplo, o outplacement é mais adequado. E se tiver um problema específico no trabalho, como decidir se aceita ou não morar fora do país, deve recorrer aos serviços de um profissional de counselling (confira no quadro Assistência ao Executivo).
Contribuição: Rozeni Gonçalves
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